04 dezembro 2012
russ mills
Há um primeiro instante em que desenhamos o mundo como o entendemos e conforme conseguimos expressá-lo.. depois alguém, ou muitos alguéns, começam a compartimentar a nossa liberdade de expressão e moldam-nos para aquilo a que chamo "o complexo do desenho parecido"... e que às vezes nada tem de parecido efetivamente (quem não se lembra do modo racional|impositivo de desenhar árvores de natal, que desde cedo em tempos de escola, nos meteram na cabeça, quando começámos a rabiscar qualquer coisa? ou porventura, aquele modelo tão estilizado de casa, todas com telhado em triângulo e com janelas encostadas aos cantos) e nasce em nós o preconceito que nos impede de fazer um desenho livre e espontâneo... expressivo e interpretativo... passamos a perseguir o "igual" ... e ouvimos dizer "isto não está nada igual!"..."isto não está nada parecido!"... e quando não fica "igual" é-nos colocado o rótulo "não sabe desenhar". E muitas vezes somos nós próprios que colocamos esse rótulo em nós como uma nódoa que dali nunca sairá... há lá tamanha tolice? "Não, eu não sei desenhar!"... "Nunca foi bom a desenho!"... será mesmo? ou será que simplesmente fomos intimidados e, como em tudo a vida há que praticar para que o resultado seja positivo, também o desenho exige algum treino... é certo que a destreza importa, mas com algum treino todos, com maior ou menor facilidade, chegamos lá...
Alguns efetivamente têm a sorte de fazer qualquer coisa "parecida" desde tenra idade e daí em diante são livres de desenhar o que lhes apetece, porque o rótulo diz "esta criança|pessoa sabe desenhar parecido"... outras pessoas, menos complexadas, afirmam não saber desenhar, mas não se incomodam e continuam a rabiscar...
os restantes que ficam presos aos preconceitos ou à vergonha, deixam de se expressar por via do desenho... têm medo de desenhar e preferem não o fazer... negam em si um dos atos mais libertadores e criativos que podemos ter... Desenhar é um dos atos mais primitivos de comunicar... o desenho|rabisco permite-nos comunicar mesmo quando as palavras nos faltam...
Depois... quem se liberta... com mestria e treino, muito treino, afina o cérebro, afina a ponta dos dedos e o olhar... e traça riscos e rabiscos dotados de expressividade, liberdade e no fim de soltas as amarras consegue-se chegar ao "parecido" por via do "expressivo"... será este o auge? Talvez... suponho que seja mesmo...
Afinal, não será o auge essa capacidade de com riscos muito rabiscados expressar algo que de facto se assemelha e transmite muito bem o que se pretende?
Eu acho que sim...
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